Fundos de investimentos, custos e descontos
- Patricia Palomo
- 2 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de mai.
Com o aumento da transparência de taxas e comissões que existem embutidos nos produtos financeiros, será mais fácil para o investidor escolher o formato que julga melhor pra si
Como os ricos investem? Essa é uma pergunta bem recorrente e uma curiosidade da maioria das pessoas. De acordo com o relatório de Gestão de Patrimônio da Anbima que abarca mais de R$ 220 bilhões dos recursos de grandes investidores e das famílias mais ricas do Brasil, quase 70% dos investimentos efetuados por esse público ocorre através de fundos.
E sempre que trago essa informação é possível notar a reação de surpresa por parte de quem pergunta. Isso porque uma parte considerável das pessoas acredita que fundos de investimento são veículos caros devido as suas taxas de administração e de performance.
Além disso, muitos investidores são expostos a propagandas insistentes que indicam ser possível “bater o mercado”, sem muito esforço e sem ter que pagar taxas de administração. Mas claro, para isso, só é necessário seguir a dica certa.
Depois do espanto inicial, explico que para grandes fortunas há tempos existe um benefício no mercado onde parte dessas taxas e custos de fundos são revertidos em favor do investidor, como se fosse um desconto.
Esse mecanismo conhecido tecnicamente como “reversão de rebate” viabiliza o investimento em equipes de gestão profissionais a taxas bem menores do que as anunciadas nos prospectos e lâminas.
Acontece que esse benefício era até pouco tempo atrás, restrito a apenas aqueles investidores grandes o suficiente.
Era, porque um dos avanços que a tecnologia trouxe ao mercado de investimentos varejo foi permitir que esses descontos fossem acessíveis a todos os investidores, através dos chamados cash back que algumas plataformas oferecem.
Significa que o investidor, mesmo dispondo apenas do valor mínimo necessário para investir em determinado fundo, está acessando a um custo bem menor, produtos cuja decisão de alocação é tomada por equipes profissionais.
Na prática, o montante destinado ao cash back ou a reversão do rebate é limitado pelo montante da taxa de administração destinado a pagar pela distribuição do produto.
A distribuição é a atividade de intermediação, venda ou prospecção de clientes e a remuneração da distribuição é conhecida no mercado como “rebate” que em geral se dá como um percentual das taxas de administração e em alguns casos também da performance.
Assim, as plataformas que trabalham com cash back se dividem em dois tipos. Aqueles que devolvem todo o montante de rebate embutido nos produtos e aqueles que devolvem apenas uma parte do rebate embutido nos produtos. Os que devolvem todo o rebate em geral cobram uma taxa direto do cliente para se remunerarem (e assim tentam se manter menos conflitados em relação ao oferecimento dos produtos) e os que devolvem apenas parte do rebate se remuneram através da retenção da outra parte dos rebates, cujo valor em geral não é conhecido pelo investidor.
Mas existe uma ineficiência nesse processo. O distribuidor ao receber o rebate precisa pagar os impostos devidos sobre essa receita antes de devolve-la ao investidor. Seria muito mais fácil e um tanto mais eficiente se esse benefício já viesse em formato de desconto direto na taxa de administração ou performance, cobrando uma taxa menor do cliente.
No mercado institucional e de grandes fortunas isso já existe. Alguns gestores oferecem versões dos seus principais fundos com taxas reduzidas e que não mais incluem os custos de distribuição. Já é possível inclusive mensurar essa diferença que no final representa mais retorno direto na cota do investidor.
O cash back e a tecnologia estão possibilitando a redução de taxas de distribuição e intermediação do sistema financeiro. Em breve esse benefício deverá impactar o bolso de todos os brasileiros, inclusive daqueles que também desejam investir como os mais ricos.
Com o aumento da transparência de taxas e comissões que existem embutidos nos produtos financeiros, será mais fácil para o investidor escolher o formato que julga melhor para si.
Patricia Palomo é economista, administradora de carteiras CVM e conselheira de empresas.
*Texto originalmente publicado na Coluna do Valor Econômico em 15/07/2021: https://valor.globo.com/financas/coluna/fundos-de-investimentos-custos-e-descontos.ghtml
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